Resenha: A mulher com olhos de fogo – Nawal El Saadawi.
Título: A mulher
com olhos de fogo.
Subtítulo:
O despertar
feminista.
Autora:
Nawal El Saadawi.
ISBN-13: 9788595810600.
ISBN-10: 8595810605.
Ano: 2019. Páginas: 160.
ISBN-10: 8595810605.
Ano: 2019. Páginas: 160.
Idioma: Português.
Editora: Faro Editorial.
Gênero: Ficção, feminismo, literatura estrangeira.
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Cortesia
/ Editora parceira LT 2019.
"Um
dos livros mais francos e radicais sobre a vida feminina, de todas as origens,
em todas as partes do mundo.” – The Guardian.
Sinopse: Esta
ficção é baseada no relato verdadeiro de uma mulher que espera sua execução em
uma prisão no Egito. Sua história chega até a autora, que resolve conhecer
Firdaus para entender o que levou aquela prisioneira a um ponto tão crítico de
sua existência.
“Deixe-me falar. Não me interrompa. Não
tenho tempo para ouvir você”, começa Firdaus. E ela prossegue contando sobre
como foi crescer na miséria, sua mutilação genital, ser violada por membros da
família, casar ainda adolescente com um homem muito mais velho, ser espancada
frequentemente, e ter de se prostituir... Até que, num ato de rebeldia, reuniu
coragem para matar um de seus agressores, levando-a a prisão.
Esse relato é um implacável desafio a
nossa sociedade. Fala de uma vida desprovida de escolhas, mas que em meio ao
desespero encontra caminhos. E, por mais sombrio que isso possa parecer, sua
narrativa nos convida a experimentar um pouco dessa liberdade encorajadora
através das transformações internas de Firdaus. O que acontece com ela é o
despertar feminista de uma mulher.
Olá,
tudo bem com vocês, leitores? Espero que sim!
Bem,
confesso que não sei nem por onde começar essa resenha, estou aqui atrevendo-me
a lhes apresentar um livro que eu ainda não consegui digerir. Terminei sua leitura
há dias e parece que tenho um bolo enorme preso na garganta. Sem mais delongas,
vamos lá?!
Eu
não vou falar sobre a história para vocês, a sinopse deixa bem claro o que você
vai encontrar aqui, nesse livro. Vou lhes contar a minha experiência de leitura
com ele. Não foi fácil, apesar de eu tê-lo devorado em poucas horas.
Esse
é um livro difícil, que deixa uma sensação ruim na boca do estomago, que faz a
gente não saber nem o que pensar, que nos mostra uma parte muito dolorosa do
mundo, para a qual a maior parte das pessoas nem olha, quiçá se importe com
ela. É triste, é sofrida, não tenho nem palavras para dizer o quão difícil é
digerir o conteúdo dessa obra e falar sobre ela.
É o
tipo de livro que vai fazer você refletir, que vai lhe dar forças, para você,
mulher, lutar por seus direitos, querer mantê-los e amplia-los diante de um
mundo que ainda é tão retrógado e machista. Você vai ter dificuldade para
aceitar tudo pelo que Firdaus passa, para conseguir aceitar o desfecho, porque
é nítido que ela está morta em vida.
Há quem diga que o livro mostra o despertar feminino de Firdaus, pode ser, mas eu
não senti assim. Eu senti que a vida lhe foi ceifada pouco a pouco, restando
nada mais a ela do que estar morta, apesar de estar viva biologicamente
falando. Não é nada fácil acompanhar a morte dessa personagem até que ela
realmente se depare com a morte em si. É doloroso demais.
Firdaus,
ainda que de origem humilde, era uma menina amável, que gostava de estudar e
que desejava um futuro melhor, mas tudo, absolutamente tudo com o que ela se
deparou na vida foi destruição. Aí, meus caros amigos, é onde mais dói, porque
as pessoas que ela mais amou foram as que mais lhe destruíram. Como pode a
própria mãe da menina, junto a uma outra mulher, mutilarem a genitália de
Firdaus? A mãe, que é quem deveria proteger, amar e orientar? Como fica a
cabeça de uma menina com uma situação dessas?
Dá
morte dos pais, a vida que leva com o tio, após o casamento do tio, a ida para
o internato – que em minha opinião foi a melhor parte da vida dessa nossa
meninas –, o regresso para casa do tio, o casamento obrigatório e maldoso
orquestrado pela esposa do tio, o esposo décadas e décadas mais velho que ela,
maldoso e asqueroso, a busca por liberdade, o deparar-se com mais e mais
maldades, estupros que por fim a levam a prostituição, a exploração de outra
mulher – meus Deus, como Mas mulheres podem ser cruéis umas com as outras! Abusos
psicológicos, a busca por uma vida melhor que fosse considerada digna pela
sociedade, o despertar de sentimentos com os quais ela ainda não viveu de
verdade, a decepção, o regresso à prostituição, mais exploração, até o
derradeiro fim da personagem.
Tem
como digerir tudo isso? Acompanhando as explicações da personagem sobre a vida
que ela levou? Sobre cada momento? A dor que a tornou vazia e fica evidente na
forma de narrar, como se ela estivesse narrando à história de outra pessoa e
não se importasse com ela, no entanto, é tudo dor, só dor, exploração, maldade,
crueldade. Firdaus nasceu em meio a uma cultura muito cruel e viveu com pessoas
ainda piores.
Como
uma mulher poderia superar tudo pelo qual a personagem passou? Para minha
pessoa, me deparei com uma pessoa morta em vida que abraçou com calmaria a
sentença de morte do seu corpo em busca de paz. É claro que ela não sabe o que
lhe espera a fazer a travessia da vida terrena para a espiritual, mas poderia
ser pior do que tudo que ela teve de enfrentar desde criança nas mãos dos
homens e das mulheres na terra? Creio eu que não. O conformismo e a aceitação
da personagem nos machucam, porque, sim, ela matou um homem, mas antes disso,
muitos a levaram a morte.
Fizeram
dela o que bem quiseram, lhe destruíram tudo, a alto estima, o amor próprio, a
dignidade, a vida e ainda assim, por ter agido em legitima defesa lhe condenam
a forca? É difícil de aceitar isso. De digerir, de fazer o bolo na garganta
descer. É difícil de prosseguir sem abrir os olhos para tudo que acontece no
mundo. Firdaus nos mostra a crueldade dele com as mulheres de modo nu e cru, claro
que a cultura de seu povo é cruel demais, mas o livro nos leva a refletir sobre
cada mulher do mundo e as formas com que são agredidas, abusadas, desrespeitadas
e é nesse ponto que o livro, a meu ver, vai abordar o feminismo, nos fazendo
refletir, nos fazendo vivenciar a história da personagem durante a leitura e refletir
sobre tudo que nós, mulheres, passamos.
Algumas
são abusadas psicologicamente, outras fisicamente, outras estupradas, outras
oprimidas, desrespeitadas em casa, no trabalho, na escola, na faculdade, em
qualquer lugar. Não é fácil ser mulher, mas é exatamente por isso que nos
tornamos mais fortes com o passar do tempo. Sabe o lance de ninguém solta a mão
de ninguém? Só mulher entende isso de verdade e ainda assim tem as que soltam e
pisam nas outras, é triste. O livro me fez recordar de um caso recente, que
aconteceu aqui no Brasil, não sei detalhes pois li a matéria por cima, pois era
demais o que li, demais pra engolir, para lidar, onde duas mulheres escolheram uma
jovem para ser estuprada pelos amigos delas e pelo fato de ela ter-lhes visto o
rosto mandaram matar a menina. Tem como chamar essas criaturas de mulheres? Pra
mim não tem. O livro me fez lembrar disso, pois as mulheres do livro, algumas
delas, também abusam de Firdaus.
Bem,
gente... O livro mexeu demais comigo. Despertou algo que eu ainda não sei como
elucidar para vocês. Eu gosto muito de ler sobre feminismo, sobre mulheres
fortes, sobre histórias reais ou ficções baseadas em histórias reais e foi
assim que eu topei ler “A mulher dos olhos de fogo”. Mas me deparei com um livro
que foi escrito de forma bem leve, porque se a autora fosse entrar nos detalhes,
a gente não conseguiria lê-lo, não. O enredo me despertou muita raiva, nojo,
inquietude, vontade de esganar aquele povo todo, de dar uns tapas em muita
gente, sei lá... É feminismo mesmo que fala, não é?
Vou
parar por aqui, porque do jeito que estou indo poderia escrever horas sobre ele
e até debater com vocês, mas não é o caso. O que posso dizer? LEIAM. Não é um
livro para ler em um momento que você não estiver bem, é aquele livro pra te
abrir os olhos. Seja você, homem ou mulher, preste atenção e sinta toda dor e
aí me digam se é justo fazerem tudo isso com uma pessoa ao ponto de ela desejar
a morte, por que se ficasse solta a única coisa que lhe restaria... Ela nem
sabe de verdade o que seria.
Quanto
à edição, simples, porém boa. O livro trás folhas amareladas, fonte grande e
boa para leitura. A capa condiz com a intensidade do enredo. Notei alguns
errinhos de digitação, mas nada que atrapalhe a leitura ou a compreensão da
história. A Faro trouxe um livro para revirar seus leitores de ponta cabeça e
fazê-los despertar um pouco mais para vida, e a forma crua da edição fecha o pacote
que é essa obra com chave de ouro.
Cruel,
doloroso, verdadeiro, do tipo que faz uma pessoa não saber mais quem ela é de
verdade. Feminista, sim, de certo ponto, triste e... Bem, leiam, porque livro
que nos faz refletir trás lições para a vida e merecem ser lidos.
Ah,
e cuidem das mulheres das suas vidas, das suas irmãs, mães, filhas, sobrinhas, primas,
de todas as mulheres. Que possamos dar as mãos verdadeiramente umas as outras e
não soltar, por que quando a gente solta, algumas delas morrem todos os dias,
em todos os minutos.
É
isso. Até mais ver!
Classificação:
[A AUTORA:] NAWAL EL SAADAWI, 87, é uma escritora, ativista, médica e psiquiatra feminista egípcia. Saadawi foi presa pelo presidente Anwar al-Sadat em 1981 por supostos “crimes contra o Estado”. Ela escreveu muitos livros sobre as mulheres no Islã, e se dedica, em especial, à luta contra a prática da mutilação genital feminina no Oriente Médio. Nawal é tratada como “a Simone de Beauvoir do mundo árabe”.
Seus livros já foram traduzidos para mais de 28 idiomas e são adotados em universidades do mundo inteiro. Seus discursos atualmente se concentram na crítica à tentativa de normalizar o que ela considera a opressão aos costumes das mulheres na África e Oriente Médio. Depois de quatro décadas da revolução islâmica, muitos já consideram normais às restrições aplicadas às mulheres, incluindo as próprias mulheres. “A Simone de Beauvoir do mundo árabe”. – REUTERS.
Oii, tudo bem? Ahh se arrependimento matasse! Eu queria muito ter solicitado esse livro, mas de início ele não tinha me chamado a atenção, ai acabei deixando para lá, mas a cada resenha que leio me bate o arrependimento, pois parece ser uma leitura e tanto.
ResponderExcluirUm beijo.
Olá, Ana.
ResponderExcluirEu acho a história desse livro tão necessária, acho que todas nós mulheres devíamos ler para conhecer um pouco a realidade do que vivemos.
É tão triste saber que uma pessoa passou por tudo isso, fico imaginando o psicológico da pessoa para dar a volta por cima e seguir em frente. Pretendo ler o livro em breve!
Olá, tudo bem ?
ResponderExcluirEu não ando lendo livros com enredos densos e que nos atinjam em sentimentos que precisamos sempre falar, enfim...
De toda forma, acho que é importante que cada vez mais, possamos dar ouvidos as vozes que falam sobre isso.
Achei a sua resenha muito instigante.
Beijos
www.estilo-gisele.blogspot.com.br
Olá!
ResponderExcluirEu fiquei chocada com os relatos sobre a vida de Firdaus. Como sofreu por não ter apoio e escolhas. Uma cultura e política que massacram as mulheres, calam suas vozes.
Um livro ágil, mas que nos coloca pra refletir e muito.
Camila de Moraes
Esse é um dos livros que eu mais quero ler atualmente, sei que a leitura dele não deve ser nada fácil, mas ao mesmo tempo é uma leitura muito necessária. Gostei de ver a sua resenha e poder conhecer mais sobre a obra.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirSegunda resenha que leio desse livro e fico curiosa com essa história tão real e comovente, e não deve ser uma leitura fácil. Mas com toda certeza leria! ótima resenha!
beijos!
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirMenina, esse é um livro doloroso e necessário, não é?
São os melhores, esses livros. Que fazem a gente olhar pra algo que antes não víamos. Se você ainda não leu, leia Kindred. É nesse estilo, extremamente dolorosa e preciso.