Resenha: Filho da noite – Antônio Calloni.
Sinopse: Caro Leitor, você deve estar, neste momento, se perguntando sobre Filho da Noite, certo? Então... vamos lá:
Desconfio que eu seja sombrio, vulgar (como sempre), lírico, erótico, engraçado, romântico(?). Desconfio que eu namore com o terror, com o suspense, com a loucura, com o estranho. Desconfio que eu tenha um final feliz. Sou um romance em duas partes que talvez se comuniquem.
Filho da Noite traz uma perturbadora narrativa, cheia de detalhes, um verdadeiro delírio, ou não? O filho, o pai. O segredo, o casarão, as mãos sujas de culpa e nenhum arrependimento. Sua narrativa tem elementos de terror psicológico. Disponha-se a devorar dois livros que facilmente poderiam desmembrar-se em muitos.
“Como aperitivo, adianto que a segunda parte do livro começa em clima de soft-pornô ou de romance noir. Nela, o novo protagonista parece ser dono de sua história, até cair num labirinto metafísico, espécie de looping do eterno retorno. E não me atrevo a revelar o final para não estragar a surpresa e a alegria do leitor.
Toda vez que sê lê um novo livro, temos a tentação de imaginar a sua genealogia. Para ajudar a decifrá-lo, por um lado, mas também para despi-lo de sua dissonância, de sua diferença. Dentro dessa procura pela semelhança, digamos que Calloni parecia cultivar a desordem de Clarice e a liberdade linguística de Guimarães Rosa.” – Geraldo Carneiro.
Olá, como estão? Espero que bem.
Vou começar confessando para vocês que a leitura desse livro me foi um grande desafio, apesar de curtinho, a leitura me tirou completamente da minha zona de conforto literária. Bem, clica aí e vamos “bater um papo” sobre Filho da noite. Vem comigo!
Quem acompanha o blog, sabe que de tempos em tempos gosto de sair da minha zona de conforto literária, mas quando escolhi esse livro para ler, não esperava que esse me levasse a essa sensação de forma tão extrema.
A narrativa do livro é simples, apesar do uso de determinadas expressões em determinados momentos, o linguajar utilizado na obra, como um todo, é bem simples, valendo ressaltar aqui que a sinopse não nega e temos expressões vulgares com frequência. Nada que vá incomodar nesse quesito se você não é do tipo que se importa com isso, eu não me incomodo.
No entanto, preciso dizer que o livro não é nada do que eu esperava ao ler a sinopse, ele entrega em partes algo que me incomodou muito pela forma com que foram colocadas as palavras, mexe com algo que deixa a gente desconfortável, de forma lúdica, que para muitos tal parte possa não saltar aos olhos, um tanto alucinada como promete na sinopse e por vezes me deixou confusa. Vou revelar que li o livro duas vezes e refleti bastante sobre ele antes de vir-lhes entregar essa resenha, ainda assim, é uma das resenhas mais difíceis que escrevi até o presente momento, pelo tamanho desconforto que a leitura me causou, pela forma com que ela me tirou totalmente daquilo que eu esperava e por ainda não saber lidar com o que compreendi e o que vejo do enredo.
Antônio Calloni, acredito eu, quis brincar com a nossa mente, fazer o leitor se perder em suas palavras e ele consegue isso com maestria. Vejo que ele faz alguns rodeios e deixa alguns pormenores para que a gente interprete, faz com que fatores insinuados nos atormentem. Ele brinca com as insinuações de narrativa teatral, com uma forma de escrita não tão concisa e com um narrador que não se importa em muitos momentos com os detalhes de forma proposital, para que assim o leitor siga o caminho que ele deseja.
A verdade é que ainda não sei dizer para vocês o impacto dessa leitura na minha pessoa, mas ele me deixou reflexiva de como a mente humana pode trabalhar e do quanto as aparências podem enganar, também do quanto podemos fechar os olhos para determinadas situações. Tendo em vista que, a certa altura achei parte do enredo mexendo com algo racista pela forma escolhida e com a qual foi colocada, não estou dizendo que fora intencional ou não, mas que senti dessa forma e que me incomodou. Não que você, meu caro leitor, vá sentir dessa forma, cada um tem a sua interpretação e é isso que torna a leitura algo tão maravilhoso, podermos ler e debater nossas ideias e compreensões relacionadas para com cada página virada de cada livro que decidimos apreciar.
Temos ainda, um enredo dividido em duas partes que se interliga por ter, digamos assim, a mesma origem. No primeiro, temos um personagem central que nos desafia a compreender, ainda que indiretamente, a humanidade e os sentimentos, coisa que ele ainda não entende por mais que busque por isso incessantemente. É um livro que mexe com a mente por abordar doenças da mente sem mencioná-las, se é que posso dizer assim. É desafiador, de fato!
Um livro sem grandes pretensões mas que consegue incomodar bastante, é o que a maioria dos livros busca, de um modo ou de outro, marcar a gente, deixar ou tirar algo, ainda que não venha para isso, como dizem: Sou o resultado do que vivi e dos livros que li.
A edição é cheia de pequenos detalhes, que deixam a obra charmosa na sua edição, contando com uma boa brochura, folhas amareladas e fonte clara e de tamanho confortável que deixam a leitura mais confortável. A revisão está ótima, a Valentina caprichou no conjunto. Para finalizar, a escrita de Antônio, ainda que simples, é cheia de nuances e totalmente intrincada.
Quanto ao desfecho, feliz? Dúbio? Bom? Satisfatório? Sim? Não? Como se dá tudo isso? O que posso dizer é que acredito que Calloni quis nos tirar da zona de conforto e nos fazer refletir sobre determinados assuntos e ao mesmo tempo brincar com a gente, então, meus caros, se quiserem entender esse livro, leiam, mas estejam preparados para, como a sinopse mesmo diz, uma leitura perturbadora, não por algo como um suspense em si ou de livros de terror, não, mas pela forma com que ela é apresentada, narrada e entregue. É isso!
Classificação:
Dados:Título: Filho da noite.
Autor: Antônio Calloni.
ISBN-13: 9788558891042.
ISBN-10: 8558891044.
Ano: 2020.Páginas: 160.
Idioma: Português.
Editora: Valentina.
Gênero: Ficção, literatura brasileira.
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Oi Ana, tudo bem?
ResponderExcluirEsse realmente é um livro pesado. Tanto pelo conteúdo, como pelas falas. Eu não teria coragem de ler esse livro, e não pelo fato de querer sair da zona, mas não tenho "cabeça suficiente" para lidar com uma história assim. Pela nossa conversa, deu pra notar o quanto essa história mexeu com você, então acredito que eu ficaria igual.
Beijos
Todas essas sensações causadas pela leitura só atiçaram a minha curiosidade a respeito desse livro, parece uma viagem e tanto por um enredo propositalmente confuso e ao mesmo tempo tenso, pesado.
ResponderExcluirOi Ana.
ResponderExcluirSua resenha é a primeira que leio sobre este livro e através da sua opinião o livro parece ser bem interessante e pesado. Confesso que minha curiosidade aumentou. Vou tentar adquiri -lo o mais rápido possível para conhecer a história.
Bjos
Oi Ana!
ResponderExcluirConheço o Antônio somente como ator, fiquei curiosa sobre o livro e como parece ser bem intenso a trama. Ador livros que nos faz refletir sobre algumas coisas e nos chocam completamente tirando da zona de conforto. Parabéns pela resenha, obrigado pela dica, bjs!