Resenha: Crônica da casa assassinada — Lúcio Cardoso.

 Sinopse: Obra-prima de um dos principais escritores brasileiros, o livro conta a história do clã dos Meneses através de diferentes narradores, que se enfrentam e se contradizem, mas que constroem com maestria um retrato profundo da vida familiar.

Livro responsável por abalar o meio literário brasileiro quando publicado pela primeira vez em 1959, Crônica da casa assassinada conta a história de uma família em decadência: cada geração se vê mais pobre que a anterior, dilapidando o patrimônio para sobreviver. Os Meneses, porém, continuam sendo respeitados na pequena comunidade mineira em que vivem. A Chácara, a grande casa que gera orgulho mas também aprisiona, é vista com reverência e desconfiança por todos que conhecem o clã.

Contudo, a chegada de Nina ― jovem carioca que se muda após se casar com Valdo, o irmão do meio ― vai abalar a relação difícil que se estabelece entre os irmãos. Demétrio, o mais velho, tem na esposa Ana uma arma sutil; Timóteo, o mais novo, se embrenha cada vez mais na própria decadência quando passa a viver trancado num quarto. “A matriarca da casa é a própria casa”, diz Chico Felitti no prefácio desta edição. “Suas alamedas são veias que irrigam o coração que é a casa-grande.”

Fantasmagórico, envolvente e extremamente brutal, Crônica da casa assassinada utiliza a pluralidade de vozes narrativas para explorar os limites do desejo e da submissão.

“O dom poético, o dom de criar vida, atmosfera, de armar os lances imprevisíveis e patéticos do destino. Na Crônica da casa assassinada culminou essa força demiúrgica de Lúcio.” ― Manuel Bandeira.

Olá pessoal!

Aqui estou para a resenha de um livro que recebi em parceria com a Companhia das Letras e preciso dizer que me surpreendeu de várias maneiras...

Uma família com um sobrenome a zelar se vê exposta depois que Valdo se casa com uma moça carioca, mudando totalmente a monotonia da casa, instigando sentimentos que podem levar a ruína.

Vamos a resenha?!

No interior de Minas Gerais, na região de Vila Velha, vive a família Meneses que a muitas décadas era vista como a mais rica da região, mas depois que a matriarca morreu eles vivem somente do que resta dos investimentos e do dinheiro que vem do aluguel de seus pastos. Estão em verdadeira decadência, mas isso não os impede de ficarem isolados do resto da sociedade, se achando importantes.

Valdo se casa com Nina, uma moça bonita e carioca. Quando ela chega e percebe que a realidade é outra, sente que foi enganada. Uma família tradicional que vive restringindo os gastos, uma posição que já não existe... Á primeira vista comecei a perceber uma certa animosidade sem motivo, direcionada a Nina, suspeitei de alguma coisa e minha ficha caiu...

O enredo é escrito através de relatos de pessoas da família e de outras que frequentam e convivem na chácara, vamos desvendando os mistérios e as revelações que chegam a chocar e a assustar ao mesmo tempo a qualquer um que leia.

É surpreendente quando descobrimos que por traz de toda pompa, a tradicional família refugia pessoas comuns que assim, pressionadas, mostram a podridão que a dentro de si. A cada capítulo a verdade nua e crua é despejada sobre o leitor, como se estivesse num pântano e ficassemos impregnados com todo aquele lamaçal e não tem como fugir.

O que me intrigou mais, foi a maneira hipócrita como cada um olhava ao redor, totalmente destituídos de avaliar a si mesmos como se fossem juízes do próximo. Me chocou o cinismo, as mentiras e a realidade de cada um, sendo conhecida só por mim a gravidade da situação em que se encontravam.

Toda a trama se desenvolve dentro da casa, assim alimentando as paredes com todo o mal e deixando o ambiente pesado, mas não é só isso, as lembranças passadas são como um soco no estômago sendo trazidas ao presente. Aaparência da casa já era vista como sombria, isso se deve a deterioração e falta de manutenção da mesma, mas também pela energia que a circunda. 

Depois que comecei a ler, fiquei intrigada em como eles se alimentam de fofoca e ficam tirando suas próprias conclusões. Desde que Nina chegou na casa, percebi que Demétrio (irmão mais velho de Valdo) e sua esposa, Ana, sentiram ciúmes da relação do casal e foi aí que o drama começou, todavia, descaradamente vi outras maldades por trás de uma simples antipatia.

As confissões estavam sendo esclarecidas e diante dos meus olhos se desenrolou toda a amargura, ressentimento e devassidão que poderia existir, como almas feridas buscando sempre razões de deflagrar, humilhar e aprisionar o outro.

Como um círculo vicioso, uma droga mesmo que injetada e traz a decadência e a ruína total, todos são culpados de algo e isso vai impregnando na pele que exala o cheiro pungente contaminando toda a casa. Demétrio é, sem dúvida, o mais manipulador de todos, talvez por ser o irmão mais velho.  

O orgulho ferido de um gera a insatisfação de todos, um sobrenome de gerações que não pode se deixar infectar por coisas novas e desconhecidas, mas os pecados estão a mesa. Será que alguém vai ter coragem de expô-las verbalmente? Só com os pensamentos já julgavam e condenavam.

Lúcio Cardoso criou muitas facetas dos personagens em sua narrativa, com seus verdadeiros sentimentos expostos a uma rotina dentro de uma chácara. Convivência tinham sim, mas eram completamente desconhecidos entre si.

Esse livro é instigante e imprevisível, quando achei que tinha descoberto todo os segredos, aparecia mais uma narração para me chocar. Surpresa diante dos acontecimentos, armadilhas e espionagem visivelmente aparentes, esse livro é incrível. Você entra totalmente na cabeça dos personagens, vivendo seus mais obscuros sentimentos. 

Nos deparamos com atitudes diversas, onde vemos o ponto de vista diferente do outro, como se cada um estivesse certo e tentando ludibriar seu próprio pensamento, relacionado ao seu antagonismo interno. São palavras que as vezes devasta e expõe seu íntimo.

A capa não é muito convidativa, por isso não devemos ler um livro somente pela capa –risos –. A Companhia dae Letras está de parabéns por toda a diagramação do livro, simples e perfeita. Não notei erros de revisão, a narrativa é feita por cada um dos personagens que são citados no livro, sendo assim, em primeira pessoa.

Obscuridade em cada canto da casa... Tem vida por si só, redenção, salvação e remissão  Será que ainda tem tempo de alguém se arrepender de seus pecados antes que seja tarde demais? Vocês só vão saber se lerem o livro – risos –. Recomendo!

Até a próxima resenha!

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Lágrimas, paisagens, sentimentos passados - que valia tudo aquilo agora? aos meus olhos ela se desfazia como um simples ser de espuma. Não era a traição, nem a mentira e nem o esquecimento o que fazia soçobrar sem que eu pudesse vir em seu auxílio - era exatamente o ímpeto do que existira, e era assim cruelmente lembrado.

A medida que o tempo passa, se perdemos o respeito e a noção de carência de muita coisa, outras porém se avivam e se fortalecem em nosso íntimo: somos assim, por circunstância e por fatalidade, mais Meneses do que nunca - e você o compreenderá desde o primeiro momento em que pisar na Chácara.

Classificação:

Dados:

Título: Crônica da casa assassinada.

Autor: Lúcio Cardoso.

Editora: Grupo Companhia das letras.

Idioma: Português.

Gênero: Drama, ficção, romance, suspense, mistério, literatura brasileira.

Páginas: 558.

Ano: 2021.

ISBN 13: 9786559210312.

ISBN 10: 65589210316.

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