Resenha: Crianças da guerra – Viola Ardone.


A DESCONHECIDA HISTÓRIA DAS CRIANÇAS DO PÓS-GUERRA

Sinopse: Em 1946, Amerigo, aos 6 anos de idade, parte num trem com centenas de outras crianças para viver por algum tempo com uma família do norte. Foi a forma que o governo encontrou para livrar os pequenos da miséria que assolou o sul depois dos efeitos catastróficos da Segunda Guerra Mundial.

Amerigo é pobre, mora em Nápoles com a mãe Antonietta. Ela, então, decide oferecer ao filho a oportunidade de uma vida melhor por um tempo: escola, comida, saúde.

Viola Ardone apresenta a história de um garoto enviado para um ambiente desconhecido, sem esconder nenhum aspecto dessa nova experiência, respeitando a dolorosa “duplicidade” da vida de Amerigo: a perda da mãe e a derrota da fome; as raízes cortadas e a nova serenidade; a indigna insegurança e a proteção “artificial” imposta, mas, ao mesmo tempo, providencial. Amerigo nos transporta para uma Itália que acaba de sair da guerra. Narrando a separação e também a descoberta de um mundo novo, cheio de oportunidades, ele se vê diante de dois horizontes e deseja fazer suas escolhas.
 “O período pós-guerra é uma mina de histórias não contadas.”


Olá pessoal!

A parte que me abalou e mais importa para mim quanto a esse livro, foi escrita pela autora Viola Ardone e relatada através dos olhos de uma criança de apenas seis anos! Isso me emocionou com sua simplicidade e sua inocência e me trouxe uma perspectiva diferente de fatos onde tudo está interligado.

Venham conhecer um pouco da vida de Amerigo, vamos a resenha?!


Amerigo é um garoto de apenas seis anos e nos passa uma grande lição ao contar sua vida. Na sua inocência, ele relata em modestas palavras sua vida de criança que passa necessidades, muitas vezes até fome, observando tudo ao seu redor e tentando encontrar algum sentido em tudo que escuta e vê.

Ameri não conhece seu pai, mas sempre pergunta sobre ele. O menino reside com a mãe, Antonietta Speranza, numa humilde moradia em um beco e sempre encontra uma maneira de fugir de casa para poder brincar com seu amigo, Tommasino. 

Estamos no ano de mil novecentos e quarenta e seis, em Nápoles...

Depois da Segunda Guerra Mundial, aquela região da Itália ficou devastada pela guerra, vivia em Nápoles apenas pessoas que não tinham para onde ir, sobrevivendo através de doações e fazendo pequenos bicos para se manterem.

Sua mãe sendo costureira, fazia pequenos reparos em roupas para vender na feira, a tarefa de Ameri era bater de porta em porta pedindo roupas que não usavam mais para que ela pudesse seguir costurando e vendendo.

Pelos relatos de Ameri, percebi que sua mãe carregava uma grande tristeza e que por muitas vezes descontava nele suas frustrações e ressentimentos. O que será que aconteceu de tão grave para Antonietta ser assim?

E aí veio a partida...

O trem partiu levando dentro de si diversas crianças, entre elas Ameri e seu amigo, Tommasino. Ele não conseguia dormir a noite, pois a viagem era longa e em seus pensamentos infantis, permeavam seus receios de ser rejeitado, até sua aparência o deixava sem graça... ele era ruivo.

Conforme suas conjecturas, seu pesar sobre sua vida e como ele queria muito mudar as coisas, ficavam evidentes. Mas o que uma criança que não tinha noção do que se passava na mente dos adultos poderia fazer para mudar seu destino?

Mudou? Seu medo de ser abandonado em qualquer lugar, deu espaço a um sonho grande, que o fazia se sentir melhor. Suas lembranças de uma vida regrada a pobreza, a discrepância social, poderia mesmo criar um futuro alternativo? Ao ponto de ele poder virar a página? Essa opção seria verdade? É isso mesmo que o futuro reserva para ele? Ou seria uma propaganda enganosa?

Tem questões muito relevantes abordadas nesse enredo: pobreza extrema, dificuldades de uma região marcada pela guerra, sobrevivência, dor, medo, insegurança e a necessidade de uma nova vida.

Ameri nos dá uma visão do que era ser uma criança que viveu naquela época, naquela região e também relata, de seu modo, que tinha muitas outras passando pelo mesmo problema.

Foi uma época onde os pais estavam dispostos a mandarem seus filhos para outra região, acreditavam que lá às crianças teriam uma chance melhor para viverem. Fiquei imaginando a dor de colocar um filho em um trem sem saber onde eles iriam ficar, apenas por conta do desespero do que estavam vivendo e da esperança de que tudo iria ficar bem para seus filhos.

Temos, então,  um salta no tempo, de 1946 para 1994 e nos deparamos com um Ameri já adulto, com seus 55 anos, narrando algo que me atingiu como se ele estivesse despindo sua alma. Sinto e vejo aquele menino novamente no passado, por circunstâncias e medos de rever emoções a tanto tempo trancadas dentro de si, demostrando uma certa animosidade diante de pessoas que a tempos o ajudaram.

Me pego pensando nessa história, sinto e creio que uma criança pequena que sente falta de afeto, tende a procurar em outras pessoas – quando não tem dentro de casa –, aquilo que podem suprir suas necessidades, que podemos definir, diante de tudo que li, em uma palavra: consolo. Buscam um aconchego ou apenas um sorriso e isso molda e faz diferença na formação do seu caráter.

Apesar das palavras simples que a autora usa, esse livro relata de forma bem forte os sentimentos e as desigualdades existentes, o sofrimento em uma época de guerra que não podemos mudar, já que faz parte do passado, mas eventualmente precisamos lembrar de olhar para tudo isso, devemos buscar essa reflexão e compreender com a história, seja ela fictícia com um fundo de verdade ou totalmente real, que guerras afetam todos os envolvidos e aqueles que sequer se envolvem também, de ambos os lados, a todos ao redor.

Para entender o desfecho do personagem central, tudo o que ele viveu e poder refletir sobre os assuntos levantados, você terá de ler o livro!

Quanto a edição, a Faro Editorial, como sempre, arrasando. Uma edição simples, singela, bonita e cheia de significados, assim como o conteúdo do livro. A capa demostra muito o que o leitor vai encontrar no enredo. A edição vem com páginas amareladas, tamanho de fonte confortável, sem erros que eu tenha notado, junto a escrita fluída da autora, um conjunto que torna a experiência de leitura excelente. Li em apenas três dias, devorei mesmo. A narrativa é entregue pelos olhos de Amerigo, em primeira pessoa e isso deixa o leitor ainda mais próximo do personagem. 

Como descrever esse livro? Emocionante, empolgante e uma leitura gratificante! Se você deseja ler um livro que demostra e faz você sentir as emoções nele empregadas e levar  algo para sua vida? Recomendo "Crianças da guerra", pode ter certeza que esse livro é o que está você está procurando. Aliás, todos deveriam ler um dia!

Até próxima resenha!

Quotes:

[...] Mas eu não sou ignorante, tanto que no beco me chamam de Nobel, porque sei um monte de coisas, apesar de não querer ir mais para a escola. Aprendo mesmo é na rua: vou andando, escuto histórias, fico a par do que aconteceu com os outros. Ninguém nasce sabendo. [...]

[...] Com o passar dos anos, o medo aprendeu a se recolher num canto da mente, mas não desapareceu, ficou à espreita, como agora em diante dessa porta fechada. Você não temia nada. Andava de cabeça erguida. "O medo não existe", você dizia, "é apenas uma fantasia". Eu vivia repetindo isso para mim mesmo, mas nunca me convenci. [...]


Classificação:

Dados:
Título: Crianças da guerra.
Autora: Viola Ardone.
Editora: Faro editorial.
Idioma: Português.
Gênero: Ficção, literatura estrangeira, pós-guerra.
Páginas: 240. Ano: 2021.
ISBN 13: 9786586041651.
ISBN 10: 6586041651.
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3 comentários:

  1. Olá,
    Já li um livro sobre isso de mandar as crianças pra longe e assim tentarem uma vida melhor. Este livro parece ser bem dramático e emocionante.

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  2. Olá, adorei a dica de leitura, não conhecia a obra e gosto muito da proposta que ela traz, acredito que irei me emocionar com a leitura, sempre tive um fraco por histórias relacionadas com essa temática.

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  3. Olá, tudo bem? Realmente parece uma leitura extremamente emocionante. Não conhecia o livro, mas me senti bastante impactada por tudo que disse da obra. Fiquei super curiosa, então dica anotada. Até porque gosto de livros com essa temática!
    Beijos

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