Resenha: As quatro vidas de Daiyu - Jenny Tinghui Zhang.

 



Sinopse: China, 1882.

Daiyu é uma menina que recebe o nome de uma trágica heroína folclórica. Ela mora com os pais e a avó em uma pequena vila, onde leva uma vida tranquila e feliz. Quando seus pais são presos e mortos por desafiarem o governo, Daiyu é obrigada a fugir para a cidade vizinha de Zhifu para não ter o mesmo destino.

Por algum tempo, Daiyu consegue sobreviver disfarçada como um menino órfão chamado Feng e trabalhar para um mestre de caligrafia. Mas seu destino muda novamente quando ela é sequestrada e forçada a aprender o inglês antes de ser contrabandeada para os Estados Unidos.

Chegando lá, precisa novamente encontrar estratégias de sobrevivência ao mesmo tempo em que se apaixona e acredita que enfim conseguirá ser livre. Mas são tempos terríveis no novo país e Daiyu é confrontada com a dura realidade da violência contra os imigrantes chineses, que coloca em risco a segurança de seus amigos e sua própria vida. 

As quatro vidas de Daiyu é um romance arrebatador sobre amor, preconceito e sobrevivência que emociona do começo ao fim.


Muitas pessoas nascem com propósitos na vida, mas, quando perdem a esperança de um dia conseguir realizar, o que sobra?

Como juntar os cacos de um desejo que deveria acontecer, mas, infelizmente, não tem como sair daquele pesadelo?

Daiyu nos dá uma lição sobre o que queria e sobre aquilo que estava vivendo.

Vamos à resenha?!

A história de Daiyu começa na China, no ano de mil oitocentos e oitenta e dois, onde, aos treze anos, morava com seus pais e sua avó. Era uma criança feliz e amada, mas tudo começa a mudar quando seus pais desaparecem. Ela e sua avó têm que se mudar, mas Daiyu não sabe o motivo.

Daiyu lembra que seus pais faziam e vendiam tapeçarias especiais, pois os compradores eram homens de dinheiro e poder. No entanto, ela sempre ficava cismada com alguns deles pelas maneiras de agir. Como era muito pequena, essas lembranças eram apenas lapsos de memórias que já haviam passado.

[Quote] "Minha mãe falava do mar de maneira romantizada, meu pai com reverência, minha avó com cautela. Eu não sentia nada daquilo. Ali, sob as gaivotas, os gaviões e as andorinhas, só sentia a mim mesma, uma pessoa que não tinha nada, não carregava nada, não oferecia nada. Eu estava apenas começando." [...]

A obra em si traz a vida de uma criança até a fase adolescente, onde passa por diversas dificuldades, principalmente em relação à sua origem. Mas os hipócritas aproveitam-se desse problema para usufruir através de roubos e clandestinidade, enquanto os olhos da população são vendados para tudo o que está acontecendo.

A história retrata o abandono, a escravidão e a injustiça sobre um povo que luta por seu espaço, mas que, no fundo, representa um lucro com o trabalho escravo, sem opção de se livrar de seus opressores. Triste e representativo da época.

Um transbordar de emoções com sofrimento que dói na alma, contado por uma criança que perde seus entes queridos sem imaginar se estão vivos ou mortos. Uma saudade imensa da vida que tinha e que agora é regrada a maus-tratos, medo e dominação.

[Quote] "Teria que me tornar outra pessoa. Não podia mais ser Daiyu: precisava ser alguém que não conseguissem relacionar a mim. Seria Feng, um menino, porque era mais seguro. Sem lar, sem pais, sem passado . Sem avó. [...]

 Saindo da China ainda criança, Daiyu passa despercebida como menino devido à sua aparência frágil. Após escapar, ela vai parar em Idaho, onde aprende caligrafia em uma escola, até ser sequestrada novamente e levada para um bordel em São Francisco. Em sua busca incessante pela liberdade, quando se sente triste e presa pela angústia, Daiyu percebe que sua vida é uma verdadeira tragédia.

As Quatro Vidas de Daiyu representa as transformações pelos quais ela passa, o drama de estar sozinha, lutando para sobreviver, confiando em pessoas próximas para depois se decepcionar, o amor pela família que ela sonha um dia reencontrar, e a esperança de retornar à sua terra natal.

A trama é envolvente, apesar de todas as adversidades impostas. É um romance escrito como um poema que desabrocha, exaltando o valor da vida e a luta constante pela mudança. São os sonhos que a motivam a continuar, nunca desistindo, e o aprendizado diante dos horrores vividos.


[Quote] "Solto um soluço de choro, então tampo a boca, porque é um som repugnante e inútil. Um ano inteiro se passou. O tempo é importante, sei disso agora. Por exemplo: quanto tempo é necessário para um esquecimento? [...]

 O livro é narrado em primeira pessoa, com Daiyu como protagonista. As páginas, ligeiramente amareladas, e o tamanho da fonte tornam a leitura agradável e confortável. Ao terminar o livro, o significado da capa se revela, com uma conexão profunda com um folclore fascinante.

A autora Jenny nos provoca reflexões profundas com sua escrita simples, mas ao mesmo tempo intensa, que trata o horror com uma emoção capaz de tocar as mais profundas fibras da alma. Em alguns momentos, me vi às lágrimas, diante da impunidade e injustiça que despertaram em mim uma mistura de tristeza e revolta.

Recomendo a obra para quem aprecia uma história que parece viva e real, envolvente e cheia de perseverança. Um drama que nos faz sentir no lugar da protagonista, vivenciando suas desesperanças e, ao mesmo tempo, a força que a sustentou em toda sua luta e conquistas.

Até a próxima!

Classificação:

Dados:

Título: As quatro vidas de Daiyu.
Autora: Jenny Tinghui Zhang.
Editora: Vestígio.
Gênero: Drama, Romance, Ficção Histórica, Literatura estrangeira.
Páginas: 352.
Ano: 2024.
ISBN 13: 9786560020177.
ISBN 10: 6560020177.
Encontre no Skoob.




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