Resenha: Reality Boy - A.S. King
Tudo muda quando ele conhece Hannah e, aos poucos, percebe o grande paradoxo de sua vida: o mundo o conheceu em um reality show, mas o menino a que assistiram não é realmente ele. Gerald não é quem seus pais, suas irmãs, seus colegas ou seus professores pensam. Na verdade, ele também não sabe quem realmente é.
Neste retrato destemido de um jovem no limite, a aclamada autora A.S. King explora a realidade desesperada de um garoto que finalmente se liberta de sua raiva, criando a possibilidade de um novo futuro que ele nunca imaginou merecer.
Gerald Faust, um jovem de 17 anos cuja vida foi moldada pela exposição precoce a um reality show. Ele não é apenas o garoto que todos apontam como o "menino do cocô" – uma referência humilhante ao comportamento rebelde que ele exibiu quando era apenas uma criança de 5 anos no programa. Ele é alguém profundamente afetado por traumas familiares e pela exploração midiática que tornou sua infância um espetáculo grotesco.
“Sou o garoto que você viu na TV,
Lembra do diabinho que cagou na mesa da cozinha quando os pais tomaram seu Game Boy? Lembra como a câmera habitualmente escondeu as partes íntimas dele com o enfeite de mesa de margaridas e girassois artificiais cheios de purpurina?”
O livro nos leva direto para a mente de Gerald, repleta de frustrações, memórias dolorosas e uma raiva reprimida que parece prestes a explodir. Ele vive preso a um rótulo imposto por milhões de telespectadores e pela sua própria família disfuncional. A irmã mais velha, Tasha, é manipuladora e cruel, enquanto a mãe prefere fingir que tudo está bem, em vez de enfrentar a verdade sobre os problemas em casa.
“-- Tasha está dando uma festa. Tem caras esquisitos pela casa toda. O pai e a mãe saíram. Acho que vi duas pessoas transando no sofá quando entrei.
– Que merda.
– Podemos falar disso agora? – pergunto.
– Claro. Sobre o que quer falar? – ela pergunta. Ouço um isqueiro acender.
– Sobre a vez em que ela quase me afogou.
Silêncio do outro lado da linha.
– Lisi?
– Ela fez isso comigo também – Lisi diz.”
Gerald luta para entender quem ele é fora da imagem pública distorcida que lhe foi atribuída. Ele encontra uma espécie de escape em Hannah, uma garota que, à primeira vista, parece ser apenas mais uma funcionária do parque de diversões onde ele trabalha. Mas Hannah também carrega suas próprias dores, e juntos eles formam um vínculo que vai muito além de um romance adolescente.
Gerald não é perfeito – ele é grosseiro, impulsivo e, às vezes, até assustador em sua raiva. Mas é exatamente isso que o torna tão real.
Hannah, por outro lado, é um contraponto fascinante. Embora sua vida também esteja longe de ser ideal, ela tem uma força tranquila que desafia Gerald a confrontar suas próprias limitações e medos.
Gerald é uma vítima do voyeurismo implacável da audiência e da ganância dos produtores, que transformaram sua dor em entretenimento.
Ao longo da leitura, é impossível não refletir sobre até que ponto a sociedade está disposta a ir para consumir a vida dos outros como espetáculo. Reality Boy força o leitor a considerar as consequências do que parece ser apenas "diversão inofensiva" na televisão.
Reality Boy não é um livro fácil de ler – ele é cru, brutal e, em alguns momentos, desconfortável. Mas também é um lembrete poderoso de que ninguém deve ser definido por um momento de sua vida, especialmente algo tão fora de seu controle. A escrita de A.S. King é envolvente, e ela não teme explorar as partes mais feias da condição humana.
Os capítulos alternam entre flashbacks de momentos vividos no reality show e os acontecimentos presentes, oferecendo uma visão multifacetada da luta de Gerald para se livrar do peso do passado. É impossível não sentir empatia ao acompanhar sua busca por um senso de normalidade e independência, algo que parece tão inalcançável para ele.
O que torna Reality Boy tão impactante são seus personagens complexos e as nuances com que A.S. King aborda temas como saúde mental, abuso emocional e a pressão que a sociedade exerce sobre as aparências.
Além de ser uma história sobre crescimento pessoal, o livro também é uma crítica contundente ao impacto devastador da mídia sobre os indivíduos, especialmente as crianças.
Se você gosta de histórias emocionantes e intensas, cheias de personagens imperfeitos que aprendem a encontrar sua força interior, Reality Boy é uma leitura obrigatória. Prepare-se para rir, chorar e, principalmente, refletir.
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